Frequentimente adentro em um laboratório em que tenho uma grande variedade de mentes, pensamentos, ideologias, situações, histórias, vidas.
Tenho a impressão de que falarei bastante deste meu laboratório "particular", passarei bastante tempo falando sobre as viagens que faço de ônibus. Pode até parecer besteira, porém acho incrível como um coletivo pode se tornar um local para aprendermos mais e mais. Em minha opnião, a algum tempo eu venho deixando de lado as "viagens" de carro e venho escolhendo uma boa viagem de coletivo.
Todos os dias em que volto para casa, depois de um dia exaustivo no colégio eu sigo o rumo do ponto de ônibus e espero por mais uma viagem curiosa. Tenho tantas histórias para contar aqui, que não tenho nem idéia por onde começar. Moro em Belém e a alguns anos atrás a entrada não era pela frente, e sim por trás, lembra? Presenciei tantos garotos com uma história de vida dificil para descerem pela frente. Também não faz muito tempo em que nossas carteirinhas de meia passagem costumavam ser de papelão com uma foto 3x4.
Desde criança eu sempre observava muito as pessoas que sentavam ao meu lado no ônibus, mas nunca pensava muito sobre. Hoje em dia quando estou em um coletivo lotado eu me sinto no meio de uma biblioteca repleta de histórias que gostariam de ser contatas, outras nem tanto.
Me lembro de uma situação que vivi quando tinha apenas sete anos. Eu estava sentado do lado de um rapaz que observava pela janela os carros passarem, minha mãe estava sentada no banco da frente. Por um instante tudo estava normal, porém em um piscar de olhos o rapaz ao meu lado começou a se contorcer e a se bater, para mim, uma criança, achei aquilo medonho. Ninguém havia notado, mas ele tinha problemas mentais. Passei o resto do dia pensando sobre aquele pobre rapaz que se batia, hoje eu ainda me relembro disso e penso: "Como ele deve estar?"
Não posso esquecer das N situações divertidas que "assisti" dentro de um coletivo. Este ano, em um domingo, eu estava voltando da Praça da República, de ônibus, é claro, quando me deparo com um jovem encostado na roleta, com aparência de ter menos de vinte anos. O veículo estava um pouco cheio, ninguém, além de mim havia percebido sua presença.
- Senhoras e Senhores, boa tardee ! - disse o jovem enconstado na roleta, ao lado do cobrador. - Não acredito que aqui não tenha gente educada, eu disse booaa tardeee !
Por um momento achei aquilo irritante, mas ele conseguiu o que queria, a atenção de todos.
- Meu nome é João e eu tô aqui pra deixar todo mundo feliz - ele tirou uma sacola de supermercado do bolso e mostrou a todos - Eu sou mágico e vô fazer esse saquinho aqui sumir, alguém duvida?
Ninguém falou nada. O suposto mágico pegou o saquinho, fez uma bolinha e colocou na mão esquerda, fez alguns gestos e assoprou o braço esquerto todo. Por um momento eu e mais grande parte dos passageiros estava achando aquilo interesante e que não iria funcionar, porém quando ele abriu a mão esquerda o saco plastico de supermercado não estava mais lá.
- Arraaaá, vocês não acreditam não é? Mas eu sou bom mesmo! Faço isso também com namorado, marido e sogra! - Os risos foram unânimes. A "galera do fundão" do ônibus começou a rir mais alto e um grupo de amigas falou que queria que ele sumisse com o namorado de uma delas.
- Faz isso com meu namorado que eu namoro é contigo - disse uma moça loira ao meio do grupo de amigas.
- Opáá, eu entrei aqui com uma passagem de ônibus e vô sair casado. Não te preocupa teu namorado já sumiu, eu to aqui !- Os risos se tornaram frequêntes - Bom senhoras e senhores, ganhei uma namorada e ainda tô com poderes pra fazer aparecer namorado e namorada, mas não garanto em 7 dias, em Belém tá chovendo muito e isso atraza a entrega. - Todos estavam rindo do que ele falava, pessoas estavam comentando umas com as outras e o mau humor estava distante daquele local andante, ele concluiu - Gente, vocês foram ótimos e agora eu tenho que alimentar minha namorada lá de trás do busão, sabe como é né... levar ela no shopping, comprar aquele sorvete da Cairú que vale um salário mínimo e alimentar minha família - Eu sabia que haveria um preço por tudo aquilo, porém não liguei, ele merecia.
O mágico começou recolhendo as "moedinhas" desde os passageiros da frente e foi caminhando até o final do ônibus, a onde eu estava sentado. Tirei algumas moedinhas do meu bolso para dar a ele, no momento em que o grande mágico chegou perto de mim notei que haviam várias notas de R$ 5,00; 10,00 e muitas outras moedas. Lhe dei meus trocadinhos e fui pensando resto da viagem, no quão inteligente foi esse rapaz.
Chegando na parada próximo de casa, puxei a cordinha e desci. Fui andando para casa pensando que o jovem havia vendido a todos daquele ônibus alegria.